A fantasia da nossa liberdade

Escrito por Thayz Phoenix | Listado em Colunas | Publicado em 20-06-2011

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Liberdade. Poucas pessoas entendem o valor real dessa palavra. Poucas pessoas conseguem assimilar o que realmente representa e a importância que possui para cada um de nós. Poucas pessoas experimentaram as sensações que ela pode trazer. Talvez, em nosso dia-a-dia, estejamos tão preocupados com outras coisas que parecem mais imediatas e, portanto, mais necessárias que esquecemos deste pequeno detalhe: ser livre. O que é ser livre? Poder fazer o que quiser? Não ter pais, professores ou mesmo o poder público interferindo em suas vontades e caprichos? O que é, afinal?

Acho que não há resposta precisa. Nunca existirá. Mas, assim como a felicidade, a liberdade não é uma meta a ser alcançada, o tal do pote de ouro no fim do arco-íris. A liberdade é o caminho, o estado de espírito que deve acompanhar todo o seu trajeto. Para mim, não há felicidade sem liberdade. Nascemos para sermos livres, como qualquer outro ser vivo na Terra ou como qualquer criatura mágica. Não porque é uma espécie de direito individual, mas por ser inato a cada um de nós. Precisamos ser livres, da mesma maneira como precisamos respirar. E a liberdade não está em permissões sem consequências ou qualquer responsabilidade. A liberdade está em montar uma vassoura e desafiar os ares. Sentir o vento no rosto e o calor da aventura. É considerar-se capaz de tudo, ou capaz daquilo, por um momento que seja. É sentir-se bem, sem pesos, sem pressão.

É poder pensar o que quiser, e saber o que deve ser feito ou dito a partir daí. É mergulhar em um oceano azul e poder dizer que está em casa. É tomar as próprias decisões, arriscando mas, sempre, tentando. É ter a chance de escolher qual a criatura sobrenatural que você quer namorar. É ter sonhos e mantê-los, sem que opiniões desencorajadoras afetem a ideia. É descobrir uma terra inóspita e explorá-la com castores falantes. É saber que você pode entrar em outro mundo na hora que quiser. Liberdade é abrir um livro e entrar naquele mundo, sabendo que nem mesmo o Obliviate mais forte pode retirar-lhe as sensações que aquele momento lhe proporcionou. É estar tão imerso em uma realidade alternativa, tão bem descrita e elaborada, que o mundo real torna-se um espectro de segundo plano.

O tempo todo, os heróis estão em busca de liberdade. Vários tipos, em vários níveis, mas tudo se converge em liberdade. Quem consegue ver uma semelhança mínima entre a felicidade ingênua das milhões de cartas com a única possibilidade de deixar de morar embaixo da escada com a felicidade sofrida da morte de Voldemort? Ironicamente, é a mesma sensação de Percy ao entrar no oceano, ou de voar em um pégaso. A felicidade de cada um desses momentos é proporcionada pelo sentimento de ser livre. Não há como ser feliz sem ser livre. Quando eu digo ‘livre’, não me refiro a fisicamente livre. Mas… mentalmente ou espiritualmente livre.

Basicamente, ser livre é acreditar nisso. Claro que não uma crença infundada ou uma alucinação na esperança de que a realidade permaneça submersa em algum lugar da mente. Não. Mas poder dizer a qualquer um que você é livre por uma série de razões, mesmo que elas, no fim, representem nada além de uma grande liberdade de… imaginação. Uma prisão - e aqui imaginem algo no nível de uma cela mesmo - só é trágica quando o seu conceito chega a seus pensamentos. A questão é muito complexa, na verdade, e me sinto dando voltas no mesmo ponto tentando esclarecê-lo. Enquanto a felicidade é algo que precisa ser identificado - e não procurado - a cada dia, a liberdade é algo que precisa ser descoberto dentro de cada um.

Há vários pequenos tipos de liberdade dentro de nós. Liberdade de ser, de estar, de pensar, viajar, mudar, criar, gostar, lamentar, sumir, surgir, mandar, chorar… cada uma, digamos, especial para um momento. Sim, todos nós podemos tudo. Consequências não cerceiam, apenas apresentam a realidade externa de uma maneira bastante contundente. Sim, nós podemos tudo. E precisamos acreditar nisso para caminhar e crescer a cada novo dia. Sim, nós podemos tudo. Só pode existir liberdade externa se houver liberdade interna. E os livros de fantasia são só mais uma demonstração disso.

Nem consigo contar quantas vezes eu fui a Hogwarts. E vocês?

Bate coração

Escrito por Thayz Phoenix | Listado em Colunas | Publicado em 12-06-2011

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Vez ou outra, normalmente de maneira repentina, descobrimos um sentimento novo. Algo que surpreende e, ao mesmo tempo, gera ansiedade e temor. Uma emoção que faz todas as outras perderem a força e que tira, pouco a pouco, sua mente dos trilhos da razão. O que seria isso, capaz de transformar cada um de nós sem que tenhamos consciência disso? Nada mais, nada menos, do que a magia mais poderosa existente… o amor. Não, dessa vez, não me refiro ao amor dos pais, pois este nos molda, cria e permanece conosco em cada passo. O amor transformador é aquele que nos une a outras pessoas, que faz com que desejemos estar perto todo o tempo, querer seus sorrisos, carinhos e palavras.

Aquela espécie de amor que muda completamente a concepção que você possuia sobre a outra pessoa, ou que simplesmente a fortalece, dependendo da situação. Aquela espécie de amor que faz você perder o fôlego, ao mesmo tempo em que lhe enche de ânimo e alegria. Aquela espécie de amor que faz brotar sorrisos repentinos, saudades arrebadoras, dramas quase… mexicanos. Aquela espécie de amor da surpresa, do beijo doce no rosto, da declaração totalmente inesperada, do passeio na orla da praia. Aquela espécie de amor que ultrapassa brigas, problemas e todo o resto do mundo. O amor incondicional, o amor possessivo, o amor platônico, o amor correspondido.

Não posso dizer, em hipótese alguma, que só se vive disso, claro que não. Ao contrário do que algumas pessoas pensam ou querem fazer outras acreditarem, mas é parte de nossas vidas, porque precisamos disso. Não necessitamos de um parceiro todo o tempo, temos fases, mas precisamos de alguém em algumas partes da vida. Não dá para se viver sozinho para sempre. Quer dizer, é até possível, mas isso significa deixar de lado uma parte importante, deixar um espaço vazio na própria existência e, bem, aprender a conviver com ele. Não é fácil, não é feliz, mas é possível. É possível, também, encontrar a tão sonhada alma gêmea ou, pelo menos, ser feliz na busca. A vida é mais feita de encantos do que desencantos.

Assim a vida, assim a fantasia. Porque os personagens também são seres humanos. Quem não já imaginou dezenas de vezes os pormenores da união de Lily e James? Quem não acompanhou os avanços lentos entre Harry e Ginny ou Rony e Hermione? Quem não se permitiu sonhar um pouco com Bella e Edward? Quem não torceu descaradamente por Hagrid e Olympia, Tonks e Lupin, assim como por Percy e Annabeth? Quem não deixou de achar fofo o casamento entre Molly e Arthur Weasley? Quem não formulou inúmeros outros casais nas diferentes histórias, na esperança tola de que realmente ficassem juntos, ou simplesmente pela diversão de imaginar como seria a convivência? Os relacionamentos fizeram parte da vida das pessoas, transformaram suas visões de mundo, sua rotina… E, consequentemente, mudaram o rumo das coisas.

Se, naquele passado distante, Lily não tivesse conseguido enxergar em James uma pessoa responsável, além da aparência travessa e despreocupada, talvez nunca tivesse se deixado levar e se apaixonado… Talvez estivesse com Severus Snape, ou com qualquer outra pessoa. E não haveria um Harry Potter. Alguém consegue imaginar um mundo real sem esse mundo fantástico? Bom, eu não. Então, de um jeito ou de outro, o amor desses dois transformou não só o mundo deles, mas o nosso. Pode-se ter certeza também que, cada um a seu modo, todos os outros casais fizeram diferença ao longo de todas as histórias. A realidade - tanto interna quanto externa - teria sido outra, o mundo ganharia outra perspectiva, a felicidade estaria suspensa até que tudo fosse definido novamente.

Claro, nem tudo são flores. Nenhum relacionamento pode correr às mil maravilhas para sempre. Nenhum relacionamento pode surgir com a certeza do eterno, e muitos poucos duram o suficiente para serem chamados de eternos. Isso não quer dizer que o ser humano, em sua busca pela dita cara-metade, esteja preso a uma procura improdutiva. Porque um relacionamento pouco duradouro não significa que não valeu a pena. Pelo contrário. Mesmo porque é o hoje que determina o que é bom. Então um presente bem aproveitado acumula-se, a cada dia, no passado, formando uma história e fortalecendo as chances de um futuro semelhante.

Uma história que você escreve e, ao mesmo tempo, é escrita para você.

Feliz Dia dos Namorados!

Shiu!

Escrito por Thayz Phoenix | Listado em Colunas | Publicado em 29-05-2011

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Silêncio. O silêncio quer dizer muita coisa. Pode não parecer e, muitas vezes, nós realmente nem percebemos. Mas o silêncio sempre tem algum significado, seja bom ou seja mau. Antes de qualquer coisa, há uma fração de silêncio que antecipa tudo. É no silêncio que as verdades ficam soltas, esperando por alguém que saiba capturá-las. É no silêncio que seus segredos fluem e seus pensamentos encontram sentido. É no silêncio que batalhas são anunciadas, ou que a magia chega a passar com e como o vento. Então, agora, no meio da agitação da nossa semana, mais precisamente no vazio desse domingo, e tentando não ser paradoxal do âmbito da metalinguagem, que eu proponho uma coisa simples.

Pare.

O que o seu silêncio diz?

A pílula vermelha ou a azul?

Escrito por Thayz Phoenix | Listado em Colunas | Publicado em 22-05-2011

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Nós odiamos a realidade, ponto. Seja todo o tempo, seja vez ou outra. Nós, cada fã da fantasia, sofremos mais com isso do que todos os outros, porque conhecemos outros mundos, fizemos parte de cada um deles, fosse por breves momentos. Sabemos que em algum lugar, mesmo que esse lugar se limite a nossa imaginação ou a criatividade desses autores fantásticos, existe um mundo melhor. Queremos alcançá-lo, queremos largar tudo (ou colocar tudo o que amamos em uma pequena grande mala e arrastar) e ir viver nesse novo universo, partilhando daquelas aventuras que consideramos milhões de vezes mais legais que a nossa rotina tipicamente não-mágica. O pior lado de tudo isso é que… não podemos.

Temos Nárnia, temos o Acampamento Meio-Sangue, temos Hogwarts e tantos outros universos. E toda aquela fantasia que, nos contam, acontecem em nosso mundo real? Sentimos que isso existe em algum lugar. E a necessidade de experimentar isso, de ir atrás, de buscar esse mundo aparentemente melhor é dolorosamente inevitável. A realidade, tal como é, tal como a enxergamos, parece avassaladora e impiedosa demais. Nós também travamos batalhas a cada dia, em diferentes situações. Nós também temos de superar acontecimentos ruins ou decepções de todas as formas. Mas parece ser tão mais fácil pegar uma espada ou uma varinha e lutar contra o mal em sua forma física do que ter de espantá-lo com uma coisa chamada ‘diálogo’.

As pessoas dizem que ler fantasia é tentar se enganar. Ou que é uma espécie de fuga da vida. Posso dizer que eu concordo com a segunda frase e discordo da primeira. Não, nenhum de nós está se enganando ao pensar que bruxos, vampiros e semideuses, por exemplo, existem. O nosso lado racional e impessoal sabe que é apenas uma história. A grande questão é que não precisa ser apenas uma história. Todos esses livros funcionam mais do que uma máquina de transporte. Funcionam mais do que aquela alternativa diante do planeta cada vez mais perdido que somos obrigados a compartilhar. Cada história fantástica representa esperança. Isso mesmo: esperança. É a nossa maneira de acreditar que as coisas têm um jeito, mesmo que seja um conserto completamente improvável. É a nossa maneira de encontrar sentimentos e pessoas boas, mesmo que elas sejam personagens. É a nossa maneira de identificar isso no lugar em que vivemos, através das notáveis semelhanças entre realidade e fantasia. É a nossa maneira de sobreviver.

E ter esperança, de forma alguma, pode ser considerada uma maneira de “se enganar”. Pelo contrário, é a melhor forma de tomar consciência da realidade e saber que ela pode melhorar. É o ingrediente essencial para que as coisas mudem, para que cada um acredite que se pode mudar. Claro que a fantasia também é uma fuga. Nós queremos aquele mundo, desejamos que ele seja verdade, com todos os prós e contras, com todas as nossas forças. Identificamo-nos totalmente com cada história. Aguardamos por um ano inteiro (e alguns, como eu, até hoje) a nossa carta de Hogwarts não por acaso. Isso, na verdade, é a personificação da mais pura e ingênua esperança. E o mundo, hoje, precisa muito disso. Precisa de gente que saiba que a infância não deve ser menosprezada que, ao contrário do que se pensa costumeiramente, guarda mais ensinamentos da vida do que outras fases. Não é porque uma criança não sabe dos males do mundo que ela não saiba viver. Na verdade, ela sabe viver sem eles.

Esse conhecimento é que a fantasia em si, sem nem mesmo a necessidade de materialização por alguma história, transmite. Talvez essa seja a essência que nos faz desejar mais o mundo (in)existente dos outros ao nosso. Queremos que a verdade de hoje seja mentira e que a verdade de amanhã seja a realização de nossos desejos. Queremos um mundo diferente a cada amanhecer, onde as coisas pareçam mais fáceis em seu modo peculiar de ser. Queremos uma felicidade que só parece ser possível em uma realidade paralela, uma realidade onde o céu se mostre diferente, onde as pessoas sejam outras, onde os valores sejam mais compatíveis ao nosso pensamento. É, esse provavelmente seria o mundo ideal. Entretanto, contra nossa vontade, não vivemos só de fantasia.

Mas pode-se transformar o dia-a-dia em algo fantasioso, de um jeito saudável. A primeira medida seria nunca perder a esperança. Esperança em coisas boas, bobas, pequenas. Esperança em conseguir completar aquele exercício, ou em encontrar uma floresta dentro de um armário, tanto faz. Mantenha a esperança, por mais idiota que as pessoas achem que isso seja. É melhor acreditar demais do que conformar-se com a realidade do jeito que ela é. Ler fantasia faz com que cada um de nós saiba que há como melhorar, seja com magia no sentido literal ou mais sorrisos e música na vida de cada um. Coisas pequenas fazem a diferença. Coisas pequenas, na verdade, são as mais importantes.

Vermelha ou azul? Escolha as duas.

O Beijo do Dementador

Escrito por Thayz Phoenix | Listado em Colunas | Publicado em 15-05-2011

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Já é consenso o fato de que a vida é surpreendente, em seus mínimos detalhes. Planejamos, organizamos e planejamos mais um pouco, mas sabemos que a vida, o destino, o amanhã - chame como quiser - pode nos obrigar a mudar tudo, a seguir uma direção na qual sequer havíamos pensado. Essa é a magia da vida, não deixar que tudo se repita continuamente. Contudo, nem sempre esses fatos inovadores, por assim dizer, são bons. Há sempre coisas boas e ruins pela frente, difícil é percebermos as agradáveis. Mas, às vezes, é completamente inevitável não se deixar levar pela tristeza de alguns acontecimentos. São tão horríveis, repentinos e imutáveis que não conseguimos suportar. A morte, por exemplo.

Albus Dumbledore já dizia que “para uma mente bem estruturada, a morte é apenas a aventura seguinte” e, claro, concordamos com ele. Prepararmo-nos para a nossa própria morte não é fácil, mas é possível, ainda que desagradável cogitar a chegada de uma data como essa. É possível tentar não temer a morte, acostumar-se com a ideia de uma nova fase, de uma mudança grande, mas, em algum sentido, boa também. Entretanto, tudo muda de figura quando se refere a outras pessoas. O fim daquela vida ganha outro sentido, outro significado e, desta maneira, provoca outros sentimentos e ações em nós. Tudo depende do que, em vida, foi construído com essa pessoa.

Se a odiamos - e, quando eu digo ódio, é o verdadeiro, não aquelas pequenas implicâncias sem propósito que todos nós partilhamos com alguém na vida -, e esse sentimento é tão terrível quanto raro, podemos não ligar para o fato. Dificilmente comemoraremos, não ficamos naturalmente felizes com a morte - talvez com as consequências desta, mas nunca com a morte em si -, não importa a situação, mas podemos não sofrer. Agora, se é alguém próximo, uma pessoa - ainda que distante - que gostamos, a sensação de desamparo é extremamente compreensível. Em nenhuma hipótese, queremos nos separar de tal pessoa, ou termos a certeza de que nunca mais a veremos na vida. É o mesmo de uma grande e longa viagem, acrescida da desesperança de retorno. E, bem, não sabemos viver sem esperança.

Imaginem o que é perder o pai, ou os pais, um amigo, um irmão, alguém que você amou a vida toda, estando junto ou não. Quer dizer, não imaginem. Ninguém realmente quer sentir sequer a dor da possibilidade, ainda que ela exista. Em todos os nossos livros, acompanhamos a morte de dezenas de pessoas. Vilões, cujos falecimentos representaram o começo de uma nova - e provavelmente melhor - era, pessoas simplesmente más - que pouca gente dá importância -, mas também acompanhamos a morte de personagens que amamos, fossem eles queridos universalmente ou não. Sofremos com suas mortes como se tivéssemos perdido um pedaço de nós mesmos. Como se parte da magia que sentimos ao abrir o livro tivesse sido suprimida por isso. Então relemos, para tentar recuperá-la a cada vez.

Mas nunca podemos esquecer que a morte não é a pior das coisas. Uma vida miserável, restrita, infeliz é uma morte gradual, que vai, aos poucos, minando cada coisa boa que há a nossa volta, restando apenas o lado ruim. Correndo o risco de ser extremamente específica, a morte gradual é um dementador. O beijo dele é somente a consequência de todo o seu trabalho desestimulador. O dementador suga a vida, tudo de bom que há nela, até que o que reste é apenas o que não deveria ser lembrado. A existência depois do beijo do dementador é exatamente uma existência. A alegria foi tomada. A vida foi embora e só restou o organismo funcionando. Não há nada que impeça que essa situação aconteça em nossa vida real.

Nada, eu digo, além de nós mesmos. Não é impossível nos preparamos para a ideia de que nossa vida acaba um dia. É extremamente complexo, mas também não impossível, aceitarmos que as pessoas que amamos também vão embora um dia, de um jeito irreversível. Não acho que devemos nos conformar com isso. Vamos sofrer e, se não fosse assim, não faríamos juz à importância de cada um deles. Mas, depois de tudo isso, precisamos seguir em frente. Ninguém quer ver o outro chorando por si, aquele que morreu queria tudo, menos deixar sofrimento para quem amou em vida. Nesses momentos terríveis, onde a felicidade parece distante e, quiçá, inalcançável, é preciso respirar fundo e remeter-se à saudade. Saudade dos sorrisos, das brincadeiras, da alegria.

Porque as lembranças, essas sim, são eternas.

Carta à mãe

Escrito por Thayz Phoenix | Listado em Colunas | Publicado em 08-05-2011

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Mãe,

Eu não sei se realmente fui a melhor coisa que lhe aconteceu na vida - embora você costume repetir isso, vez ou outra - mas, certamente, o oposto é verdadeiro. Por mais que eu não seja a pessoa que demonstre a maior consideração do mundo, não é só hoje que eu lembro de você. Pelo contrário, todos os dias, principalmente quando meu delicado e paciente chamado ecoa pela casa, não é? Mas hoje, talvez, seja o dia de parar, reparar e salientar tudo o que você já fez por mim.

Não posso me lembrar, mesmo se quisesse, dos momentos em que você levantou, no meio da noite, para encerrar com meu tormento, perdendo seu sono para que eu reconquistasse o meu. Não posso me lembrar das primeiras palavras carinhosas que você me destinou, mas eu sei que elas existiram pelo costume de ouvir coisas semelhantes até hoje. Não posso me lembrar de quantas fraldas você trocou, ou quantas vezes me fez sorrir - aquele riso fofo e estranho de uma criaturinha pequena e sem dentes -, mas posso sentir que foram milhares.

Sei também, e não é difícil adivinhar, que, desde àquela época, ou antes mesmo do meu nascimento, você daria sua vida por mim. Não hesitaria em se interpor entre mim e o perigo, garantindo que você recebesse, em meu lugar, todo o tipo de mal que fosse lançado, na expectativa e - por que não? - na certeza de que isso me salvaria por completo. Não hesitaria em manter-me seguro, mesmo que distante, e mesmo que essa distância fosse tão dolorosa como indescritível. Não hesitaria, também, em lutar para que eu vivesse em um mundo melhor, um mundo seguro, enfrentando tudo o que fosse possível para que eu pudesse crescer em uma atmosfera tranquila e pacata, sem más influências ou riscos iminentes.

É difícil para você fazer isso, posso perceber, mas nunca deixou de ensinar-me a viver. De um jeito que eu dificilmente compreendo imediatamente e, mais dificilmente ainda, aceito sem questionamento. Aprendi muito com as suas palavras, com sua forma de agir, com aqueles olhares que dizem mais do que sermões ou declarações. Aprendi a tentar escolher sempre o certo, aprendi que depende de mim escolher o caminho que seguirei. Aprendi que eu posso cair, errar, fazer as maiores besteiras da história da semana, mas que nada disso representa o fim. Só preciso recuperar as forças, tratar das feridas, levantar e continuar.

Sei que você fará sempre o possível e o impossível por mim. Agradeço por isso. Agradeço por me defender, até mesmo quando acho não ser necessário, agradeço por abrir mão de grande parte de sua vida, ou de um grande plano que a faria extremamente feliz, por mim. Agradeço por nunca me esquecer, principalmente quando sinto que todos os outros parecem ser capazes de fazê-lo com extrema facilidade. Agradeço por cada dia em que você me acorda cedo - sempre contra a minha vontade, é claro - e por cada dia que, querendo meu descanso, pede que eu durma mais cedo. Agradeço por tudo, tudo mesmo, mesmo as implicâncias mais bobas, porque sei que elas devem ter um fundamento importante.

A impressão amanhã vai ser de que essas foram palavras vãs, quando eu ficar emburrado por alguma coisa qualquer, mas elas não o são. É simplesmente difícil apreender a profundidade das coisas assim, diariamente. As linhas acima expressão sentimentos verdadeiros, uma percepção que ultrapassa a rotina e, por isso mesmo, é difícil de ser alcançada a todo momento. O que isso significa? Significa que desentendimentos são inevitáveis, mas são só isso… desentendimentos. Orgulho-me em dizer que a nossa relação está acima disso. E de todo o resto. Tão acima que nem mesmo a fantasia, a não-realidade ou realidade alternativa, pode abstrair. Tão acima que é extremamente importante lá. E aqui, principalmente para mim.

Feliz dia das mães, mãe. E que eu possa encher-lhe de orgulho um dia, o mesmo tanto que eu sinto de ser seu filho.

Com amor,
Seu filho.

É, essa é a coluna da semana. Diferente, pouco parecida com uma coluna, mas hoje também é um dia diferente. Cada um torna um dia especial da forma que pode. Minha vez, desejando a todas as nossas mamães um ótimo dia e um bocado de paciência conosco, porque precisam e, ao que tudo indica, precisarão.

Razão x Emoção

Escrito por Thayz Phoenix | Listado em Colunas | Publicado em 01-05-2011

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Nós vivemos em um mundo de dualidades. Sempre há duas posições que se contrapõem e, normalmente, estamos no meio delas tentanto decidir qual lado é o melhor a seguir em alguma situação especial. Mas nem sempre é fácil. Aliás, nunca foi fácil. O certo e o errado parecem tão próximos um do outro, tão confusos, que separar um do outro, interpretá-los e finalmente reconhecer o caminho correto é mais demorado e complicado do que gostaríamos. Muitas vezes, só percebemos tal característica quando as consequências se apresentam. É, é exatamente essa categoria que separa as duas de cima: as consequências. Se estas forem boas, foi feito o melhor. Se não forem… hora de repensar as próprias atitudes.

Tecnicamente, é um conceito bem simples. A prática é que o torna terrível. Mas essa, acreditem, não é a pior dualidade. Porque podemos aprender com nossos erros e transformá-los em acertos. Podemos consertar as coisas, desde que tenhamos vontade e nos empenhemos o suficiente para tal. Agora… como decidir entre razão e emoção? Como, se nem mesmo podemos controlar a expressão deles dentro de nós? Aparentemente, não podemos equilibrar os dois. Não consigo conceber nenhuma decisão que possa ter avaliado esses dois lados. Sempre pendemos ou para a emoção, ou para a razão. Sem querer. Sem notar. E, quando reparamos, as coisas já foram feitas; simplesmente porque um lado, mais forte naquele momento, disse que assim deveria ser. Mas… deveria?

A razão é sempre uma ótima condutora, a princípio. Com ela, podemos pensar nos prós, nos contras, nas dificuldades, obstáculos e beneficíos. Parece uma boa e segura maneira de avaliar cada questão e chegarmos a uma alternativa razoável. Entretanto, o raciocínio feito pode estar errado, ser enganoso e nos distanciar do real significado do problema. Pensar sistematicamente cada coisa é, também, perder boa parte da diversão e da… emoção, que é seu oposto. Os sentimentos normalmente são muito parciais, por assim dizer, e levam em consideração cada esperança e pensamento tolo que temos sobre o fato, desde o que o antecedeu até seus sucessores. Podem ser fortes ao ponto de não nos deixar escolha, e simplesmente não conseguirmos evitar segui-los. Normalmente, são os que provocam as melhores sensações. Mas também levam à precipitação, à angústia e tecem um caminho ligeiramente duvidoso e pouco seguro.

Nenhum de nossos heróis da fantasia foi capaz de seguir uma única maneira de ver o mundo por toda a história. Hermione podia ser a bruxa mais brilhante de sua idade, parecer extremamente racional e prática, mas ela lutava por seus sentimentos, pelos sentimentos dos outros. Dumbledore foi racional todo o tempo, planejando cada mínimo detalhe do que resultaria no fim de Voldemort; contudo, olhar para aquele anel e ver nele a esperança de reencontrar sua família e desculpar-se é uma prova de que a razão não poderia imperar todo o tempo. Nenhum outro personagem; nem Edward, muito menos Bella, nem os irmãos Pevensie, nem mesmo a Feiticeira Branca, nem Percy ou Annabeth, nem mesmo os Deuses do Olimpo! Se nem os Deuses conseguem… Como teríamos sequer esperança?

Isso não é o fim do mundo, claro. Na verdade, a realidade convive muito bem com os extremos, normalmente intercalando-os. A fantasia não seria diferente. Temos o bem e o mal, que é uma espécie de certo e errado do nosso mundo. Certa vez, ouvimos falar - e eu sei que não demorarão a identificar o autor - que “todos temos luz e trevas dentro de nós“. Assim, temos o bom e o ruim, o legal e o chato, o certo e o errado, o útil e o inútil, a vontade e a preguiça, a razão e a emoção. Até mesmo fantasia e realidade se contrapõem dentro dos próprios livros! Imaginem fora dele… Agora, é por isso que iremos deixar a fantasia de lado pela realidade? Ou o contrário (mesmo que esse último dê muita vontade)?

Não que tenhamos realmente muita chance de determinar que parte de nós devemos seguir, se a mente ou o coração. É o nosso grau de envolvimento com o problema que responderá isso. Se for algo rapidamente solucionável, se não nos for essencial, ou se nos parecer besteira, certamente usaríamos algum raciocínio lógico para seguir em frente. Agora, se o assunto envolve quem amamos, a maneira como nos sentimos ou coisas importantes do passado ou futuro, penderemos para o que o nosso coração nos diz. Ou seja, nem sempre podemos decidir entre os dois. É quase involuntário; não há a quem culpar. O importante é não se arrepender.

Porque mente e coração fazem parte de você.

No que você acredita?

Escrito por Thayz Phoenix | Listado em Colunas | Publicado em 24-04-2011

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Muita gente menospreza os sentimentos humanos, principalmente os de crença, sorte, destino e afins, afirmando que são apenas ilusões criadas para tornar a vida mais fácil e manter a mente alheia focada em algo que deveria ser deixado de lado há muito tempo. O que essas pessoas não percebem é que estão largando boa parte de suas vidas sem tentar, sem correr atrás, sem fazer as coisas valerem a pena. O que elas não percebem é que estão abandonado a chance que as coisas têm de dar certo, por apenas não acreditar que isso vai acontecer. É uma forma muito vazia de se viver. Todos nós precisamos confiar que o futuro vai ser melhor que o presente, ou nossa razão de viver simplesmente se esvai.

E, com essa história de crença, não estou me referindo a religião nenhuma. Porque o conceito de fé não tem nada a ver com o tipo de Deus em que acredita. A fé é a mesma em todas as religiões. A esperança também. Sim, fé e esperança são coisas diferentes, embora seja uma variação sutil. Fé é quando você acredita em alguma coisa que não tem como provar, não tem como explicar a sua procedência nem a sua eficiência. Ter fé em algum acontecimento é esperar que ele aconteça sem realmente saber como vai acontecer. É somente acreditar, sem quaisquer adendos racionais que os seres humanos costumam implantar.

Esperança, por outro lado, é acreditar que o que se fez vai dar certo, que suas atitudes vão culminar em um resultado positivo. É esperar que algo aconteça conforme o planejado, baseado em tudo o que foi feito ou observado antes. É por isso que dizem que esperança é a última que morre; porque ela não vem do nada, vem de um raciocínio lógico e fundamentado de que as coisas vão melhorar, simples assim. O que não é simples em toda essa história de crer é justamente a nossa parte. É ter esses sentimentos; é, não importa o quão ruim tudo pareça, cismar de que as mudanças estão por vir e que seguirão conforme o desejado. Acreditar, resumindo.

Se Dumbledore não acreditasse em Harry, tudo seria diferente. Se Harry não acreditasse, naquele último momento, que estava tomando a atitude certa e que, de algum jeito, a situação se resolveria, ele não teria força de vontade para caminhar em direção à própria morte. Se todos aqueles bruxos não acreditassem que era possível resistir e lutar por um mundo melhor, Hogwarts teria sido simplesmente invadida e dizimada. Foi a crença deles que mudou o curso da história, que reverteu as chances, que transformou o impossível em possível. O mesmo vale para Percy, que chegou a enfrentar os deuses do Olimpo e suas armadilhas imortais, e, ainda assim, teve fé de que seria capaz de vencer. E foi, não foi?

Tudo em sua vida gira em torno do que acredita. Se é vazio de crenças, mesmo as mínimas e aparentemente pouco importantes crenças, não há nada em torno do qual sua vida gire, apenas um grande buraco esperando para ser preenchido com alguns desejos e uma boa quantidade de vontade de realizá-los. Era em torno de Mo que a vida de Meggie girava; era nele que ela acreditava com todas as suas forças. Assim como era em torno de Edward que a vida de Bella passou a girar e, foi bem perceptível o que lhe aconteceu quando essa parte importante, de algum jeito, afastou-se. Precisamos, como seres humanos, tendo poderes ou não, imaginar o futuro e querer que ele se torne daquele jeito.

Perspectivas, expectativas, anseios. Não vivemos sem isso. Não lutamos sem isso. Por que levantaríamos todos os dias para enfrentar a rotina e vencer obstáculos se não ambicionássemos alguma coisa com isso? Se não quiséssemos chegar a algum lugar? Se não acreditássemos, por fim, que isso é possível? Por que pegaríamos em armas e lutaríamos em uma guerra que não é nossa para livrar Nárnia de um domínio frio e maligno se não desejássemos que as coisas realmente melhorassem? É bem difícil de imaginar uma luta sem propósito, já que nossos propósitos são nossas crenças e que, na verdade, dizem muito sobre o que somos e sobre o que passa em nossos pensamentos.

Então… no que você acredita?

E o gato morreu de quê?

Escrito por Thayz Phoenix | Listado em Colunas | Publicado em 17-04-2011

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Gostamos de saber das coisas, não adianta. Se não fosse assim, não leríamos vários livros que narram as continuações de uma história, também não procuraríamos coisas na internet, ou na televisão, muito menos passaríamos horas conversando com nossos amigos. A curiosidade é simplesmente uma característica do ser humano, que pode se expressar de maneira mais contundente ou não. E isso varia de acordo com a situação, e não de pessoa para pessoa. O fato de não demonstrar estar interessado em alguma coisa nunca significa que a pessoa não esteja, na verdade; só que ela sabe esconder muito bem. De qualquer forma, a curiosidade não é um defeito, é mais uma… inconveniência, que pode ajudar em diversos momentos.

E por que eu digo que esse sentimento varia de acordo com a situação? Ué, porque tudo depende do grau de interesse que aquilo é capaz de despertar na gente. Se for algo que consideremos quase essencial saber, é mais do que natural não conseguir controlar a vontade de perguntar, investigar, perseguir até obter todas as respostas. Se você ouvir alguém falar seu nome no meio de uma conversa, por exemplo, pode considerar normal se forem seus amigos, ou pessoas aleatórias, mas se for aquele grupo, aquela pessoa - que você ama ou odeia, tanto faz -, a vontade de descobrir o porquê de seu nome ter sido mencionado vai ser bem maior. Agora, se for algo que não faz nem a gente dar uma segunda olhada, não iríamos nos empenhar tanto.

Claro que isso tudo também, indiretamente, depende um pouco de cada um. Coisas que me despertam a curiosidade podem significar nada para você. Mas existe um padrão, situações quase irresistíveis, como a maçã foi para Eva. Como nós, desde o princípio, somos sedentos por conhecimento, a curiosidade não é algo do qual podemos fugir; no máximo, controlar. Mas o que seria de toda a história de Harry Potter se não fosse esse desejo de saber das coisas, entender o que acontecia dentro e fora do Castelo? Certamente, Hermione não saberia tanto sobre magia e, mais do que certamente, Harry não teria experimentado aqueles feitiços do Príncipe Mestiço.

Se não fosse a vontade de saber quem verdadeiramente era aquela família estranha e soturna de Peaks, Bella teria seguido sua rotina - sem pesquisas em livros ou internet - e, provavelmente, as coisas continuariam a mesma. Entretanto, se não fosse pela curiosidade, Percy não teria sido capturado pelos telequines no meio de sua travessia pelo labirinto. Que custava ficar quieto enquanto Annabeth investigava e não querer saber o que era a conversa na outra câmara? Não é exatamente fácil manter o controle de si mesmo nessas situações, ainda mais com a hiperatividade desse garoto.

Mas será que é possível condená-lo por isso? Teríamos nos controlado e não ido escutar? Teríamos feito o oposto de Meggie e, assim nunca aberto aquele livro - que Mo escondia de todas as formas possíveis - quando a oportunidade surgisse? Teríamos negado a nós mesmos tantas chances de conhecimento - seja ele útil ou inútil - durante as nossas vidas, ou a vida deles, se estivéssemos naquelas situações? Eu duvido muito. Não que a vontade de saber não possa ser esquecida, adiada ou controlada, mas ela simplesmente não some. É como cultivar uma dúvida por bastante tempo e ninguém realmente gosta de dúvidas, tudo é bem mais compreensível e aceitável se estiver claro diante de nossos olhos. E é para chegar nisso que buscamos as respostas.

Se pararmos para pensar, não é só por curiosidade que buscamos tais respostas. Necessidade, medo, responsabilidade, tantas outras maneiras… mas a curiosidade é a justificativa mais inocente. Queremos saber porque apenas queremos saber. Não temos qualquer ideia do que fazer com o conhecimento adquirido após solucionada a questão. É somente para satisfazer um desejo momentâneo e aparentemente incontrolável. Sem ele, entretanto, sem esses acessos em querer conhecer as coisas, a humanidade provavelmente não teria chegado onde chegou e, nem mesmo nós, teríamos lido tudo o que já lemos. Tomando o cuidado necessário para a curiosidade não se tornar nociva, ela tende a dar bons frutos.

E, quem sabe, algumas memórias bem engraçadas.

Nós e nós mesmos

Escrito por Thayz Phoenix | Listado em Colunas | Publicado em 10-04-2011

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Dizem que as palavras são ferramentas extremamente poderosas. Acho que ninguém melhor do que nós mesmos para sabermos disso. Só é preciso algumas páginas - quando a história já é amada, até mesmo alguma frase ou palavra-chave, somente - para que comecemos a viajar naqueles universos distantes, para que passemos a transferir os sentimentos de nossos personagens preferidos, para que nos envolvamos tão fortemente com aquilo que seja impossível se concentrar em outra coisa além de virar as páginas. Então, é, nós conhecemos o poder das palavras. E também não precisamos nem mesmo dos livros para ter exemplos de como palavras soltas no ar podem provocar situações que nunca desejamos, ou consertar problemas que pareciam insolucionáveis.

Mas e quando essas palavras estão em nossas mentes? Os pensamentos - que, querendo ou não, são expressos como palavras (até mesmo nossas sensações, sejam cheiros, cores, sentimentos, são transformados em palavras - ou tenta-se fazer isso) - são extremamente poderosos por agirem sem que ninguém perceba, sem que nós mesmos tenhamos consciência de que estamos seguindo certas linhas de raciocínio sem nem ter certeza de que estão corretas. As palavras brigam em nossas cabeças e ninguém sabe quais serão as consequências delas. Todo dia, a toda hora. Uma confusão de opiniões que aparenta pertencer a dezenas de pessoas diferentes.

Se nós, reles trouxas mortais, nos perdemos em nas ondas de pensamentos que surgem constante e repentinamente, imagine o que passam os heróis da fantasia. Quer dizer, todo personagem passa por isso também, já que, a princípio, possuem a mesma essência humana que a nossa. Mas um herói tem que superar isso em virtude da sua missão. Ter pensamentos errados pode ser perigoso por simplesmente tê-los, sem ser necessário nem colocar algum em prática. A qualquer momento, afinal, pode aparecer um bruxo legilimente ou um Deus do Olimpo e ter em mãos tudo o que passou por sua cabeça. E quando esses pensamentos envolvem decisões? Seguir um caminho errado é colocar tudo a perder. E muitas vezes esse “tudo” representa a vida das pessoas que ama.

Toda hora se diz para que se tire um momento para pensar, analisar uma questão antes de se decidir, basicamente ser voluntariamente assolado por palavras de todos os lados, todos os sentidos, todas as formas… até escolher algumas ligeiramente bem aplicáveis a situação. Não é uma tarefa fácil e todos nós sabemos disso. Vencer os próprios monstros é bem mais complicado do que enfrentar os monstros do mundo. Por mais que sejamos levados pela emoção em muitos momentos, nossa mente tem um poder sobre nós mesmos que nem parece ser levado em consideração.

Acredita-se que, como ser pensante, cada ser humano é responsável pelo que reflete e pelo que faz. Eu digo que não. Nem sempre sabemos o que pensamos. Nem sempre conseguimos diferenciar uma impressão exclusivamente sensorial de uma influência externa ou de um senso comum que pode nem estar correto. Muitas coisas chegam prontas e acabamos por assumir como nossas e segui-las. Quem tem um mundo mágico para salvar precisa se livrar disso, precisa entender que os conceitos de certo ou errado são vistos de maneiras diferentes pelas pessoas, mas que é preciso seguir o próprio até o fim se realmente almejar algum objetivo bom.

Harry só chegou naquela floresta para morrer porque abandonou suas dúvidas sobre o que estava fazendo. Percy só enfrentou todos aqueles desafios porque focou-se em superá-los. Os reis e as rainhas de Nárnia apenas salvaram sua terra porque não permitiram que os “poréns” ameaçassem sua confiança e fé. Nós, assim como eles, não podemos deixar que nosso maior inimigo seja nós mesmos. Não digo para não pensarmos, pelo contrário. É importante que analisemos uma questão até chegarmos em um caminho satisfatório. Não podemos temer o “e se…” nem utilizá-lo como motivo para arrependimentos futuros. Ou nunca sairemos do lugar.

E isso tudo foi, também, um simples amontoado de pensamentos.

Verdade ou consequência?

Escrito por Thayz Phoenix | Listado em Colunas | Publicado em 04-04-2011

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Na vida, seja ela real ou fantástica, isso não é realmente uma escolha. Verdade ou mentira, as consequências são inevitáveis. Entretanto e por incrível que pareça, a verdade tem muito mais peso do que a mentira. Afinal, ela sempre é a que mais aparece, tanto quando é contada direto quanto quando surge após a mentira se desfazer (já que isso, inevitavelmente, acontece). Não é só por isso. Uma inverdade é bem mais fácil de se conviver do que uma verdade, pelo simples fato de que ela não existe. Sem analisar profundamente a questão ou entrar em situações específicas, a mentira pode ser banida com alguns toques de realidade. Mas a verdade, que é a própria materialização da realidade, não pode ser deixada de lado. É com ela que temos de conviver, sem contestação.

Claro que a mentira tem muitos lados ruins. Ninguém quer se enganado e a grande maioria das pessoas também não gosta da sensação de estar enganando outrem. Gostamos da verdade e, ainda que seu caráter seja definitivo, preferimos trabalhar com ela. Ótimo, assim é realmente melhor. Mas, então… por que a mentira persiste? Talvez pela falta de coragem em falar o que se deveria, ou pelo medo do que a revelação pode alterar no cotidiano ou em algum relacionamento, ou por um julgamento prévio e particular de que a verdade não parece necessária no momento. E, então, vem a mentira. Nenhuma mentira dura, não adianta. Uma hora, ela irá se desfazer diante de nossos olhos e, se a verdade escondida não for impactante o suficiente, o fato de ter mentido ocupa bem essa posição. E, assim, não se evita o problema, ao contrário, arranja-se um maior.

A verdade é uma coisa bela e terrível, por isso deve ser tratada com grande cautela.” Certamente, cada um de nós aqui reconhece a frase e lembra perfeitamente de seu autor. Albus Dumbledore, certamente o maior bruxo de todos os tempos e… o mais mentiroso. Sim, claro que sim. Mentira não é uma atitude dos maus, apenas. E omissão é uma espécie de mentira; é exatamente como dizer “não há mais nada que deva ser acrescentado“, mesmo sabendo que há. E Dumbledore, de sua posição superior e capacidade quase assustadora de saber de tudo, usou e abusou destas ferramentas. Praticamente todo o mundo bruxo confiava em suas decisões sem nem desconfiar a direção em que eram conduzidos. Um grande tabuleiro de xadrez, onde as peças nunca sabem o que seu condutor está planejando. A vantagem disso? Nem o adversário sabe.

Mas será que vale a pena? Claro, no final tudo deu certo. Contudo, não foi conforme o planejado e, perceptivelmente, Dumbledore se arrependeu. Intenções boas, raciocínio e lógica de ataque quase perfeitos, mas… e as pessoas envolvidas? Sacrifícios pela guerra são necessários, obviamente, o que não quer dizer que os participantes não tenham direito de saber sobre o que estão participando. Severus Snape foi literalmente entregue para a morte, sem saber, mas não era como se se importasse, de qualquer jeito. Harry Potter sofreu, certamente, bem mais do que aconteceria se tivesse todas as partes do quebra-cabeças disponíveis para serem montadas. Vidas teriam sido poupadas, o passado, o presente e o futuro não podem nem ser imaginados a partir disso. O que seria diferente? Será que o diferente seria melhor, pesando-se os prós e os contras?

Dúvidas que nunca serão respondidas. Querendo ou não, a verdade e a mentira duelam mais vezes do que em cada página da saga Harry Potter, mais do que na aventura amorosa de Edward e Bella, com todas aquelas complicações, mais do que anos escondendo parte da paternidade dos semideuses, mais do que as palavras de Edmund no pior de seu temperamento. Elas estão brigando agora, na sua cabeça, enquanto você lê isso, assim como estão atuando na vida - também nesse momento - de outras tantas pessoas. Qualquer coisa que se diga ou que se faça gera consequências. Mentiras sinceras ou verdades vazias, tanto faz.

É o ato, não o fato, que importa. Uma mentira continua sendo uma mentira, mesmo que sirva para salvar a vida de outrem. Seja condenável ou louvável, isso não é capaz de mudar a classificação da ação. A possibilidade de descoberta da verdade sempre põe em xeque a utilidade da mentira. Adiar a verdade, piorar as coisas? Só uma tentativa fracassada de lutar contra a realidade e tentar, ao menos, imaginariamente, fazer as coisas diferentes. Iludir alguém por pouco ou muito tempo é apenas criar uma fantasia etérea e fugaz capaz de tornar a vida real mais pesada depois que se for. É condenar outra pessoa a preferir o irreal ao real.

Sem que ela tivesse oportunidade de escolher.

Eu, tu, nós.

Escrito por Thayz Phoenix | Listado em Colunas | Publicado em 27-03-2011

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Ninguém pensa do mesmo modo. Por mais parecidas que as pessoas sejam, por mais que elas se identifiquem uma com a outra, nunca vão partilhar toda e cada linha de raciocínio. Não. Faz parte da magia do mundo real termos mentes diferentes, que enxergam a vida e seus acontecimentos particulares de maneira diversa. Seria extremamente entediante e pouco produtivo se todos fôssemos iguais e vivêssemos do mesmo jeito, cotidiano repetitivo e verdadeiramente sem graça. Estamos aqui para discordar, para buscar uma inovação diária, para fazer o mundo evoluir com a realização dos vários ‘e se…‘ que povoam nossos pensamentos.

Exatamente por isso que a discriminação e o preconceito são completamente irracionais e despropositados. São justamente as diferenças que torna cada um de nós especial, notável e capaz de mexer com a realidade. São, eu sei, as semelhanças que nos aproximam, e talvez essa seja a justificativa para as termos, mas isso não quer dizer que as divergências nos distanciem. Não deveriam, na verdade, em nenhum aspecto, seja ele físico ou ideológico. Exigir respeito e consideração alheia, entretanto, não funciona. Tais atitudes precisam partir de nós mesmos, porque esperar acontecer é uma acomodação perigosa e as leis não garantem a realidade.

Assim, entender que o outro não tem obrigação de pensar, agir ou ser como você é o primeiro passo. Ao contrário, ideias variadas aumentam as possibilidades e, muitas vezes, aquilo que falta em você pode sobrar em outrem, e as qualidades unidas geram um resultado positivo. Não é difícil perceber algo assim no dia-a-dia, muito menos nos livros de fantasia. Ora, cada Cullen tem uma personalidade, um dom, uma perspectiva diferente do mundo. Cada um deles foi importante para manter a condição deles em sigilo e a família unida durante toda a existência deles, narrada ou não.

Se não fosse por Harry, Rony e Hermione serem tão diferentes, pensarem diferentes e se destacarem em aspectos diferentes, nenhum dos três teria sobrevivido a tudo o que passaram. Talvez a primeira grande aventura deles seja a melhor demonstração disso. Uma série de obstáculos, onde cada um foi decisivo de um jeito diverso. Se não fosse Rony e sua habilidade com Xadrez Bruxo, eles teriam sobrevivido ao ataque de peças de pedra previamente encantadas? Ou se não fosse a perspicácia de Hermione, teriam passado vivos e ilesos por todas aquelas poções? Ou se não fosse a habilidade de Harry em voar, teriam conseguido a chave entre todas as opções voadoras? Perguntas retóricas, resposta simples e única.

Percy também não conseguiu tudo sozinho, nem Lief, nem qualquer outro herói da fantasia. Porque não há pessoas perfeitas, logo, impossível que alguém, sozinho, consiga reunir todas as qualidades necessárias para vencer aquilo a que se propuser. Capacidade de tentar, todos possuem, mas conseguir envolve uma série de outros aspectos. E as pessoas são um fator importante. Então, procurar amigos, pessoas com as quais se relacionar, que sejam totalmente iguais a você é, além de um desperdício de tempo, já que vai ser impossível encontrar, uma desvalorização do que é diferente e, consequentemente, uma perda de novas situações que poderiam conduzir sua vida por uma estrada melhor. É como jogar no lixo uma série de possibilidades desconhecidas.

O que quero dizer não envolve incentivar o relacionamento com pessoas completamente opostas, com uma série de atitudes que não se quer para a própria vida, claro que não. É, pois, uma tentativa de mostrar que devemos valorizar até mesmo o que não apreciamos muito nos nossos amigos. Porque, talvez, inconscientemente, tenhamos os escolhido exatamente por isso. Porque encontramos algo diferente, uma visão das coisas que não temos e que, de algum jeito, em um futuro próximo ou distante, irá nos enriquecer. Basicamente, é a escolha entre um mundo colorido ou um mundo monocromático.

E uma cor só enjoa.

Para sempre?

Escrito por Thayz Phoenix | Listado em Colunas | Publicado em 20-03-2011

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A eternidade sempre foi algo que conquistou as pessoas. A ideia de viver para sempre, acompanhar o futuro como presente e ser agente e espectador das transformações do mundo parece uma dádiva cobiçada por muita gente. Mesmo que nós, reles seres humanos sem super poderes ou magia, não tenhamos quaisquer meios para alcançar tal capacidade, permitimo-nos sonhar com ela e imaginar as possibilidades que ‘ter todo o tempo do mundo‘ abriria. Certamente realizaríamos desejos que não vemos como colocar em prática agora e ganharíamos uma importância que acreditamos não possuir. Olhando desta maneira, parece realmente tentador ser eterno. Mas, como tudo na vida, há também os contras.

O mundo muda, e essa frase é tão simples quanto óbvia para todos nós. O mundo sofre transformações enormes enquanto piscamos e que só serão sentidas daqui há um tempo indeterminado. Talvez um tempo que, agradecidamente, não estaremos mais aqui para presenciar. Mas se estivermos? Porque a humanidade não caminha num círculo, mas em uma linha reta cujo destino é completamente desconhecido. Uma linha reta que guarda obstáculos bons e ruins, salvações e catástrofes, acontecimentos que surgem e se vão em velocidades diferentes. Será que a mente de alguém, moldada tempos atrás, é capaz de suportar essas mudanças com o mínimo de sanidade?

Aparentemente, eternidade também é sinônimo de poder e talvez essa seja a característica mais marcante. Lord Voldemort é o principal exemplo. Sua imortalidade era, ao mesmo tempo, seu maior trunfo e sua maior fraqueza. Ele a buscara de uma maneira tão doentia e ininterrupta que corrompera a si mesmo. E por quê? Qual a grande utilidade em viver para sempre? Adquirir cada vez mais conhecimento mágico? Ser considerado alguém superior aos outros, alguém invencível? Será que tudo isso vale a pena diante da ideia de uma vida miserável? Albus Dumbledore, depois de tudo o que suas escolhas lhe causaram, diria que não. E não é difícil concordar com ele nesse aspecto (e em muitos outros).

Não que toda vida eterna seja miserável. Pelo contrário. Os Deuses do Olimpo, afinal, não têm do que reclamar. Algumas confusões que eles mesmo aprontam não são exatamente um problema para suas longas e poderosas existências. Claro, com o poder que possuem, não é nada difícil transformar a eternidade em algo cômodo e suportável. Mas até eles têm de lidar com os inconvenientes do passar do tempo e se adaptar às novas realidades. Se não fosse sua superioridade divina, talvez não tivessem cabeça para aguentar tamanhas mudanças. Nós, mesmo vivendo para sempre, seríamos ainda humanos, ainda sujeitos às fraquezas e medos humanos, só que, agora, mais longos que o de costume.

Pode-se ainda citar os vampiros, que não possuem exatamente a eternidade a seus pés, já que existem formas de exterminá-los. Vampiros são adaptados por natureza a uma vida longa, seja no sentido físico quanto no psicológico. Desta maneira, eliminam com a ‘morte transitória‘ uma série de inconvenientes humanos à nova existência. É por isso que são capazes de perdurar. A essência dos vampiros é a solidão e a frieza, ambas trazem uma imparcialidade que isola a criatura das transformações que o mundo sofre diante de seus olhos. Existindo sangue fresco e escuridão, um vampiro pode se manter. Seres humanos sobrevivem com tão pouco?

A imortalidade e a eternidade, como consequência, trazem a solidão e aprofundam-na de uma maneira que nada no mundo pode diminui-la. Porque estar sempre vivo, para sempre vivo, é ver tudo passar e permanecer ali, como se você fosse a única coisa no mundo que não mudasse nunca. É acreditar que possui um poder sobre a própria vida e a vida dos outros que, na realidade, não possui. Porque todos nós somos reféns de uma dinâmica maior, que faz o mundo girar e evoluir. Nenhum ser humano nasceu para apenas ficar parado assistindo. Ou você nunca se perguntou por que Nicolau Flamel desistiu da imortalidade, assim, tão facilmente?

Fazer a diferença é questão de segundos, afinal.

A de… Amizade

Escrito por Thayz Phoenix | Listado em Colunas | Publicado em 13-03-2011

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Eu disse outra vez que ninguém pode viver sozinho. O ser humano, como ser pensante e social, precisa ter um círculo, por menor que seja, de pessoas para conviver. Simples. Não precisam ser todos parentes ou todos amigos. Não precisam ser todos íntimos ou distantes. O que interessa, primordialmente, é ter alguém. Monólogos, afinal, só são interessantes quando tem alguém, do outro lado, ouvindo. Claro que somos mais flexíveis do que imaginamos ao estabelecer algum tipo de laço com outra pessoa, mas… quem não quer ter amigos? Se não muitos, aqueles poucos, mas fiéis e decididamente eternos? Quem não quer ter alguém com quem conversar, com quem contar em momentos difíceis?

O mundo é simplesmente muito grande para ser carregado sozinho, Atlas que o diga. Não só desejamos amigos, como necessitamos deles. De alguma maneira suspeita, que nem mesmo muita investigação é capaz de desvendar, a vida de diferentes pessoas se entrelaçam tão fortemente que é quase impossível desfazer o elo. Nem sempre são os indivíduos mais semelhantes da Terra, na questão dos gostos, e nem sempre é aquela pessoa que você considera legal à primeira vista. Seu melhor amigo, ou melhores amigos, para os sortudos capazes de encontrar vários deles, pode ser, hoje, o desconhecido que esbarrou em você na rua. Acredite, eu passei por isso.

O que eu quero dizer? Bom, que amigos são essenciais, realmente não preciso, certo? Se nossas próprias vidas não servirem de exemplo, nossos livros não me deixam mentir. O que seria de Harry Potter se não fossem Rony e Hermione? Ele sequer teria terminado o primeiro livro vivo! E Percy? Sem Grover para protegê-lo, ou Annabeth para tomar a decisão certa, ou mesmo Thalia, mais tarde, com sua determinação, ele certamente não teria atravessado tão bem tantas aventuras pelo universo mitológico. Até mesmo Bella Swan, sempre focada no mundo sobrenatural que acabara por descobrir e se encantar, teve amigos por perto, como Angela, para tentar confortá-la nos momentos mais difíceis.

Também não é preciso dizer que amigos são aqueles que comemorarão e brincarão com você quando necessário, mas também gritarão e reclamarão quando a situação pedir. São aqueles que não hesitam em lhe fazer companhia, mesmo que seja, conscientemente, em uma das grandes burradas da sua vida. Porque amigo é aquele que apóia, mesmo quando tudo parece conspirar contra ou percorrer um caminho errado. Amigo é aquele que usa a sinceridade como cola e não como arma. É aquele que vai lhe fazer pensar sobre algum assunto em que sua posição anterior era irredutível, simplesmente porque você acredita nele a ponto de ouvi-lo bem mais do que qualquer outra pessoa, e isso sem perceber.

Porque a amizade surge do nada, é algo construído e não criado. Harry se aproximou de Rony logo no Expresso de Hogwarts, mas a amizade com Hermione foi trabalhada. Não eram eles que falavam mal dela no começo? Depois, não deixavam ninguém sequer insinuar algo negativo sobre a garota. E estão certos, claro. Já que a amizade é o tipo de amor mais duradouro, mais flexível e, por vezes, mais fácil de levar. É um sentimento que não exclui os outros, pelo contrário, é capaz de fortalecer outros tipos de laço. Não é melhor ser amigo dos seus pais, além de só filho deles? Ou ser amigo(a) da(o) namorada(o)? Torna as coisas bem mais fáceis de serem conduzidas, em todos os sentidos.

Se analisarmos bem, nenhum herói da fantasia - e de outras tantas histórias - conseguiu tudo sozinho. Em algum momento de sua jornada, ele precisou de ajuda. Precisou poder confiar em outra pessoa (ou criatura) para realizar algum de seus feitos. Claro que sempre bate aquela vontade de ser capaz de tudo e resolver todos os problemas por si mesmo. Mas não é assim que funciona. Amigos servem para nos fazer acreditar que pode dar certo, que o próximo passo é duvidoso, mas não significa que o resultado seja ruim. Amigos servem para rir, chorar, surtar e compartilhar. Sejam amigos próximos ou amigos distantes. Amigos nos fazem ter saudades das partes mais vergonhosas da vida, dos momentos mais tensos, apenas porque eles trazem um pouco de alegria para cada situação.

E isso sim é magia.

É dor que desatina

Escrito por Thayz Phoenix | Listado em Colunas | Publicado em 07-03-2011

9

Cada um de nós passou por muita coisa na vida. Mesmo que a maioria de nós mal tenha completado duas décadas ainda, certamente temos muitas histórias para contar. Obviamente que experiência é algo adquirido com o tempo e, desta maneira, quanto mais tempo, mais experiências. Isso não significa, entretanto, que pouco tempo de vida não nos traga algumas percepções importantes, algumas certezas que dificilmente mudam com o tempo. Uma delas é o conhecido “ninguém gosta de sofrer“. Não, porque a dor corrói, machuca, cansa, por mais redundante que essas definições soem, e, ainda assim, é mais presente em nossas vidas do que gostaríamos.

Não há só a dor física, é claro, ou seria tudo muito fácil. Há também a dor que remédios não podem curar, mas afagos podem alcançar. Todos nós passamos por isso. Sabemos o que é cair de uma bicicleta (ou de algum outro lugar/meio de transporte de sua preferência), assim como sabemos o que é nos decepcionar-se com alguém, sentir-se sozinho, ser verbalmente ferido. Talvez até nós mesmos, tão envoltos nelas o tempo todo, não demos tanta importância às palavras como armas, até que sejamos atingidos por elas.

Claro que a existência de cada um é preenchida por bons e maus momentos, quase na mesma medida. Entretanto, aqueles que vieram com algum tipo de sofrimento são, normalmente, os mais marcantes. Porque temos receio de que se repita, porque nos traumatizamos de maneira tão permanente que nosso cérebro não consegue simplesmente apagar. A maioria dos bons momentos, ou dos momentos neutros, acabam suplantados por tais lembranças pouco agradáveis, já que nossa luta por sobrevivência alcança o mais simples mecanismo dos nossos neurônios. Queremos viver mas, acima de tudo, queremos viver felizes. Sem dor, sem lágrimas, sem motivos para nenhum dos dois.

Ser um herói de uma história, porém, não livra ninguém de passar por coisas do tipo. Dores físicas nem precisam ser mencionadas, certo? Só pegar o exemplo de Harry Potter e Percy Jackson e já temos uma boa lista de duelos, lutas e sangue derramado. Isso vale também para boa parte dos bruxos e semideuses de suas histórias. Por mais que não pareça, é possível fugir ao máximo das dores físicas. Uma vida saudável e sem perigos (ou sem a grande maioria deles) seria a receita mais óbvia. Só que isso não salva ninguém dos próprios sentimentos. Vivemos em sociedade - nós e os personagens de nossas histórias - e estamos, de certa maneira, vulneráveis ao próximo, dependendo de seu próximo desconhecido passo.

Quer exemplo maior do que o sofrimento de Bella Swan com a partida de Edward Cullen em Lua Nova? É praticamente o tema central do livro, meses de sofrimento mórbido e uma tentativa quase bem sucedida de se recuperar da perda. Mas não é preciso nem ler o livro todo para perceber quanta dor ela sentiu e o quanto isso a transformou. Porque a dor é transformadora. Não somos as mesmas pessoas enquanto a sentimos e, dependendo do acontecimento, também não somos os mesmos depois que ela passa. É quase como se fosse um caminho sem volta, embora existam opções nestes caminhos, já que a dor pode tornar alguém mais corajoso, mas também pode tornar alguém mais receoso.

Afastar-se das pessoas nunca é a solução, contudo. O isolamento não é natural do ser humano, transforma a vida em mais um fato medíocre do cotidiano, que simplesmente passa pelo tempo e se extingue com ele; há bons exemplos disso em nossos amados livros. Sem falar que a dor em sentir-se sozinho é uma das piores. É uma mistura de rejeição e carência perto do insuportável. Harry conheceu bem esse sentimento no período em que vivia com os Dursley. Por isso que uma carta para ele era como a salvação. Não sabia ser o começo de uma nova vida ou novo mundo; sua primeira ideia resumia-se ao fato de que alguém no mundo se importara com ele a ponto de escrever uma carta.

A dor é inevitável, é quase impossível não termos nossas vidas preenchidas por uma boa dose de drama. Não estamos em um livro, infelizmente, para as coisas darem certo no final. Nós somos responsáveis por terminar com nossas próprias angústias e em lugar para que não surjam outras. Nós devemos levantar a cada manhã com uma vontade ainda maior de fazer as coisas certas, confiantes de nossa própria capacidade em superar as decepções da vida. Porque a vida precisa ser feita de muito mais sorrisos, abraços e brincadeiras do que de expressões tristes e lágrimas. Não precisamos chorar. Quer dizer, chorar também é inevitável.

Então choremos de felicidade.